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atelier de domesticação de demónios

caderno de variações sobre dores em dó menor, por O Marquês. 

30.11.07


Bukowski, uma canção. o flanco do coração morto, dois aurículos e três ventrículos, o regresso à condição visceral, o acordo do animal consigo, uma mão cheia, a outra mão apoiada na boca, a cabeça no chão. e, ao lado, um cão, a ganir.

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29.11.07


o jagunço. encostado ao balcão, ele fazia a apologia da dedicação, do esforço, do serviço, do trabalho. o outro, sentado numa mesa, interrompeu-o. sim, é através do trabalho que a condição humana tem hipótese de realizar-se, é verdade. mas, com a adversativa levantou-se e aproximou-se dele, em muitas circunstâncias, resultado do regime de alienação que existe e engana, a glória que daí decorre é a confirmação da subordinação e a consagração da exploração apenas. ao fundo da sala, indiferente à disputa entre os dois homens, o vulto de alguém ensaiava um exercício de pizzicato num violoncelo. sem deter-se, o outro, após um desvio rápido do olhar, continuou a digressão. a glória é uma epifania, um efeito delirante, não é um artefacto, não é um produto, não é, diga-se assim, a consumação da mão de obra. é por isso que, em prol do socialismo, é devido o combate a todos os obstáculos à distribuição equilibrada e sã da riqueza, o primeiro e o mais resistente dos quais é o toto sob as suas diversas formas, bola, loto ou milhões. e ele, ainda encostado ao balcão, pousou a esferográfica com que acabara de preencher o boletim com o qual ia tentar a sorte.

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27.11.07


Maria roadkill, ii. a tua ideia de tesão faz-me impotente, lamuriou-se ele. eu sei, falta-te sangue, elucidou-o ela, fui eu quem o sugou.

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26.11.07


logout, i. corre muito quieto, esgravata, passa, nada diz. escreve no caderno enquanto caminha, coça a cabeça, raspa as lêndeas com as unhas. mastiga apressadamente a carne, o bolo de carne assada. escolhe um shampoo da prateleira, anti-caspa, com condicionador. agora passa mais devagar, cospe, molha o lápis na língua e escreve no caderno, numa caligrafia de falido, de muitos cheques mortos na compensação em lisboa, assento de insânia. puta que o pariu, está a acabar, quase a acabar, mas ainda não acabou, mas vai acabar agora. deita o caderno no chão, pisa-o com um pé, pisa-o com o outro pé também, rasga a folha onde escreveu assento de insânia, guarda-a num bolso das calças. filho da puta, não há mais quem. o bolso está roto. ele passa outra vez quase sem passar. a folha cai, perde-se. e a chuva cai sobre a folha. é o fim, este fim, só falta escrever uma última vez assento de insânia, antes de terminar. cá está, assento de insânia.

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24.11.07


o camarada. eu dou-te o socialismo. cerrou o punho e assestou-lhe um murro. depois, sequência imediata, outro e outro mais. deteve-se quando lhe percebeu o sangue na face, sangue abundante, evadido do lábio rasgado e do nariz. parece que também te ajudei a descobrir em ti a cor do socialismo. chama-lhe solidariedade, se quiseres, embora não seja necessário.

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22.11.07


Maria roadkill, i. e quem és tu?, perguntou ele. stormy weather é o meu tempo e o meu nome, meu amor, disse-lhe ela.

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20.11.07


os feitos e os defeitos de Lazy González, xi. ele pegou o canivete que estava sobre a mesa. abriu-o, cravou-o numa maçã e rodou-a, cindindo-a em duas partes. a morte tem uma propriedade extraordinária, a sua irreversabilidade. chegada a alguém, esse alguém resume-se ao que foi antes. e isso permite limpar o mundo e dar-lhe mais depois. dito isto, estendeu a mão, para dar uma das metades da maçã à mulher que estava sentada ao seu lado. ela assentou os olhos nele e, não quero, recusou rispidamente a oferta. talvez não queiras, mas, porque minha vontade, quereres vai ser o teu destino.

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19.11.07


o fim da esperança. o mundo é um erro e, se não for incentivado à mudança, a sua ordem permanecerá estancada no engano. (hesito, consciente que partida sou muitas, inteira sou uma só. se calhar mais do que hesito, resisto, una, íntegra, mas talvez não devesse resistir, talvez devesse deixar retalhar-me, constituir-me um arquipélago moral capaz de acompanhar o coro de vozes e deuses que, logo na atitude, tentam a minha dispersão) o comandante do bombardeiro, a bomba foi largada, informou a tripulação. (aleluia, a bomba) na sequência, no posto de comando estratégico, ouviu-se uma voz grave, agora o que há a fazer é preservar a tranquilidade, manter os olhos no écran, esperar, a instar os presentes. dentro de aproximadamente dois minutos poderemos verificar o resultado da missão. (a recusa que sinto e tento é inefável. a temperatura parece mais elevada do que é costume, transpiro) dois minutos, está quase. o silêncio acompanhou a demora. a ansiedade cresceu com a espera. apenas uma pessoa parecia calma, correspondendo à intenção afirmada pela voz que foi ouvida. essa pessoa não era ela, era o assistente do comando, um jovem com patente baixa, que segurava um livro aberto na mão esquerda. na mão direita tinha um lápis, o que sugeria um exercício de leitura particularmente atento. na sala permanecia a suspensão e a tensão. a cadeira de um dos operacionais de informações rangeu. ouviu-se um ruído metálico. após esse instante tornou o silêncio. no écran continuava a ser exibida a deslocação vertiginosa da bomba, a sua aproximação ao alvo. entretanto o assistente pousou o livro sobre a secretária e encontrou o lápis com uma das suas páginas. (que livro é que ele está a ler?, simulacres et simulation?, como é que ele pode estar tão calmo numa circunstância destas?, circunstância derradeira) começou a sublinhar uma frase, car l’explositon est toujours une promesse, mas fez uma pausa breve no gesto, para encarar o écran, antes de retomar e terminar o sublinhado, elle est notre espoir. faltam quinze segundos, ouviu-se pela última vez a voz grave. (quantos segundos?, quanto tempo é que falta exactamente?) pouco depois outra voz, menos grave e mais sincopada, iniciou a contagem decrescente, dez, nove, oito, sete. nesse momento, como se tentasse interromper o ritmo do cronómetro, o assistente do comando levantou-se e sussurrou algo, elle est notre espoir, que nenhuma das outras pessoas presentes percebeu. cinco, quatro, três, dois, (é agora) um, z. o que é que aconteceu?, o que é que aconteceu?

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16.11.07


o mordomo dos suplícios. assim não, clamou ele, interrompendo o gesto do outro, assim não. aproximou-se. assestou um pontapé no abdómen da mulher, que gemeu e caiu, tentando recolher-se na posição fetal. sem deixar de olhar a mulher, agora prostada, tirou a vara da mão do executor da sentença. e, é assim, vês?, demonstrou-lhe o modo de cumprir o ofício, com dever e satisfação por cumprir o dever.

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15.11.07


spleen reset, ii. quando chega pelo lado da urgência, que é o lado pelo qual é assaltada mais frequentemente, vê-se um espectro apenas. é quase como se ela não chegasse. ou chegasse o seu carácter animal, sem mais. todos a tentam olhar nessa ocasião, sobretudo os homens, mas não conseguem. há sempre algo, uma sombra, uma parede, um carro que passa, uma distância, a miopia, que se intromete na perspectiva e não permite constatar o corpo dela, que passa rapidamente. está a pedi-las, não está?, disse uma vez um dos velhos que joga às cartas na praça. os homens, como não a vêem, imaginam-a. naquele dia, para os provocar, ela passou a tarde no jardim da praça. os velhos, transtornados pela sua presença, foram sentar-se na esplanada, no outro lado da rua, onde o sol era mais inclemente. ofuscados, mesmo quando colocavam a mão a servir como pala dos olhos, olha a puta, viam pouco mais do que uma silhueta a mover-se.

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13.11.07


ressureição. arrombou a porta com estrondo. depois vociferou. não sei se os odeio. nunca os amei, isto é certo. o ódio é um sentimento demasiado forte, demasiado exigente, mais do que o amor. por isso julgo que não os odeio. se nunca os amei, se nunca consegui amá-los, e em muitos momentos até teria sido fácil amá-los, julgo que não os odeio. não obstante isto, não lhes perdoo. quando tomei o veneno e me escondi sob o sobrado, na cave, foi para morrer. deviam ter-me deixado morrer. deviam ter-me procurado fora de casa, por aí, no bosque, nas ruínas do moinho, atrás dos muros que contornam as fazendas, nas margens da ribeira, nos locais onde os suicídas tentam o seu destino. não deviam ter revolvido a casa, a nossa casa, do sótão à cave. Não deviam ter partido as tábuas do soalho para me resgatar. deviam ter-me deixado a asfixiar no vómito negro, que era o meu vómito, o vómito do meu coração moído. deviam ter-me deixado partir. deviam ter-me concedido a liberdade que escolhi, ir. deviam ter-me esquecido. e, antes, muito antes, fez um compasso de espera para agravar a voz, não deviam ter-me baptizado com o nome Lázaro.

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2.11.07


a filha da costureirinha. era uma vez uma menina muito pequena. tinha braços e pés pequenos. tinha pernas e mãos pequenas. os dedos eram pequeninos também. actualmente ela continua a ser uma menina muito pequena, mas já vai à escola. deixou de brincar com bonecas. agora espeta as agulhas nos meninos, não importa de que tamanho, não nas bonecas. aproxima-se dos rapazes, o tamanho não a assusta. ajeita a saia. faz beicinho. há sempre um que vem. então ela chega-se ainda mais junto dele e espeta-lhe uma agulha, na barriga, numa mão, num braço, numa perna, na cara, na cabeça, no coração, onde ela quer. e, antes de fugir, para, afastada, dizer a oração de voodu adequada ao caso, já te fodeste, pá, diz ela com a sua voz de menina muito pequena.

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1.11.07


o charme discreto dela. que morria, mais do que ressuscitava, disse. que, cansado do catálogo dos dias mesmos, agora colecciona outubros. que são já muitos os que tem, nenhum repetido. que os guarda junto a um amor com bolor. que é assim não por omalgia, que ainda os pode carregar todos, se quiser. que não sofre, mente, porque o amor é sujo. que é o que é apenas, insiste, corpos encostados, amparo e afecto. que o pó sobre eles, os corpos dela e dele, é a marca da cumplicidade e da comunidade que têm, tenta, mas não é verdade. o que se vê em ambos os corpos é uma tristeza só, única e a mesma. e já é tarde. há muito tempo que o princípe morreu. foi ela que o matou, abrindo-lhe no peito a caverna onde domiciliou uma bomba, bomba que acordou depois com um sopro seu. pelo que, embora ainda não saiba, ele, que sempre a quis, foi quem a deixou, deixando-a fazer o que fez.

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2004/2022 - O Marquês (danado por © sérgio faria).