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atelier de domesticação de demónios

caderno de variações sobre dores em dó menor, por O Marquês. 

31.1.08


aguarela de Grosz. quem é o responsável? a miasma gerava uma espécie de sufoco. quem é o responsável?, repetiu a interrogação, desta vez como grito. não soou qualquer voz. deus, onde estás?, por que não respondes? segurava uma lanterna. a chama apagou-se. deixaste de ser o responsável?, é isso?, ou nunca foste mais do que imaginação? continuou a andar entre os cadáveres, pisando-os para avançar. ouvia-se um som semelhante ao de frutos maduros a serem esmagados. era como se caminhasse sobre chão alagado. é isto o resultado do apocalipse?, é assim que o mundo vai acabar? os pés afundavam-se e produziam um som viscoso ao amassar a carne dos mortos. parou, cansado. em rigor, não necessito de respostas, necessito de coordenadas que me orientem para a saída deste campo vasto de carne, murmurou para si. flectiu ligeiramente os joelhos, colocou sobre eles as mãos, baixou a cabeça, encontrando o queixo com o peito, e fez exercícios de controlo da respiração. tomado pela fadiga, naquele instante decidiu esperar pela aurora. com luz, presumiu, saberia em que sentido avançar. uma vez mais, após encher o peito, expirou com força. a matilha, que o estava a vigiar, esperou também.

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30.1.08


Mendelssohn é mau prenúncio. faltou-lhe a clarividência. o discernimento desertou de si. disse sim à dor do sacramento.

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28.1.08


o mordomo dos suplícios, ii. naquele instante, em acto, o que o preocupava não era o eventual excesso de crueldade que pudesse estar a usar. o que o preocupava era uma questão de competência, a velocidade dos seus gestos, a cadência com que infligia o plano do suplício. sabia que, se fosse demasiado rápido, o ciclo de cada tormento seria interrompido, fundir-se-ia o padecimento anterior com o seguinte, produzindo uma espécie de dor contínua e única, o que amenizaria o sofrimento do castigado. na prática não lhe interessava o tamanho da culpa do condenado. atendia sobretudo ao modo demorado e preciso, porque mais doloroso e, portanto, competente, de administrar o castigo.

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25.1.08


so nur phantomschmerz bleibt. em êxtase, segurava uma lâmina, talvez por ofício ou qualquer outro motivo breve, como se fosse o último tango em babilónia. apontava-a a si, à carne a que decidira renunciar.

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24.1.08


über dem narbengelände. o rapaz ficou trancado numa sanja do tempo, o dia entre o domingo e a segunda-feira. o lugar não tem portas, do que resulta que não há maçanetas ou puxadores para usar, não há fechaduras para arrombar. o lugar também não tem janelas. trancado num espaço amplo sem horizonte - trancado no limbo, que é como ele se sente -, o rapaz entretém-se a amanhar a auto-recriminação. acusa-se e guarda-se sem defesa, a observar os acontecimentos a acontecer, sem interferir, como se acontecessem longe demais de si, para além do seu alcance, do seu cuidado ou da sua necessidade. cativo num domicílio de onde não há saída, desistido e amparado na culpa que amanha, como uma cicatriz é ainda carne, ele aguarda a sentença, sem rumor de esperança. é uma questão de tempo, de tempo dentro de um tempo que não há. sente-se o odor da insânia.

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22.1.08


o major Billabong. segundo o folclore local, os seus olhos eram negros e, não obstante, brilhavam no escuro. conta-se também que inventou um jogo sem qualquer propósito de saber quem o venceria. despia dois rapazes, com porte idêntico, e sentava cada um deles num dos bordos de um barco frágil que havia no lago contíguo ao pântano. atava-os de igual modo, com corda e nós semelhantes, a pontos simétricos do barco. quase sempre o barco pendia ligeiramente para um dos lados. para lhe restituir o equilíbrio, ele chegava-se ao rapaz do lado mais afundado e fazia-lhe um rasgo na carne, para o sangrar, esperando conseguir, assim, compensar o peso excessivo verificado naquele bordo. o jogo não era fácil. porque, depois de perceberem o seu sentido, os rapazes, o cortado e o outro, começavam a tentar libertar-se, agitando o barco. ao princípio, não precavido, ele tentou resolver o problema com ameaças e bofetadas. tais expedientes não surtiram o efeito pretendido. por isso alterou as condições do jogo, sofisticando-o. e, nas vezes seguintes, sempre que os rapazes começavam com a agitação, ele afastava-se, assobiava para lhes chamar a atenção e abria uma comporta situada na margem do lago, de onde se precipitavam três crocodilos, um para cada um deles e o outro para estimular a concorrência entre os animais. fosse por isso ou por qualquer outro motivo, quase sempre os rapazes deixavam de abanar o barco, tentando, assim, garantir a sua sobrevivência. porém, que seja sabido, com maior ou menor adesão dos rapazes às regras, o jogo nunca acabou bem para qualquer deles.

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18.1.08


os feitos e os defeitos de Lazy González, xii o amor é uma história, ao princípio bem contada, que, consoante o tamanho e a demora desse princípio, no final resulta em ferida ou em cicatriz. e que, se mete pessoas como tu, então, é uma fábula.

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17.1.08


Straussmachine. não consigo pensar em Stockausen e em azul ao mesmo tempo. não consigo. a mãe estendeu-lhe uma mão, tentando emprestar-lhe tranquilidade. somos reais?, é isto que pergunto, disse com a voz exaltada. a mãe agarrou-lhe a cabeça e aconchegou-a contra o seu peito. somos reais, claro. não sentes que estamos agora aqui?, tens alguma dúvida sobre a nossa identidade neste momento e neste lugar? ele acalmou-se um pouco e soluçou. não, mãe, mas ninguém consegue responder-me e tenho fome. que mal é que eu fiz? a mãe embalou-o, como se fosse uma criança, e apertou ainda mais os braços em seu torno. sê realista, meu filho, necessitas conhecer o teu sangue, é isso, apenas. depois afrouxou o abraço e libertou um dos braços. como?, mãe, quis ele saber. há apenas uma forma de o conheceres, soltando-o. ele afastou a cabeça do peito da mãe e procurou-lhe os olhos. mas, sem fazer uma ferida em mim, como?, mãe, insistiu ele na pergunta. a mãe não respondeu. estava concentrada num gesto. e, com a adaga que agora tinha na mão, degolou-o.

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7.1.08


o princípio do fim, iii. um, dois, cala-te, estúpido, esquerda, direita, a teelvisão está ligada. senta-te, vê e ouve. concentra-te, como se fosses um animal amestrado. Bebe mais uma, para acompanhar a outra. toma o cinzeiro. salva o mundo depois. o mundo pode esperar, o mundo pode sempre esperar. a cheerleader também. aguenta, ió, aguenta aí. o filtro é um elemento fundamental. como a paciência. Sê forte, seiscentosecinco forte. é mesmo para arrebentar. agora faz zapping, como os meninos. agora faz ao contrário. e com a outra mão. mais um bocadinho, que ainda é cedo. deixa o mundo em paz. está a dar tudo na teelvisão. sim, em directo. não é preciso melancolia, ma chère. nem histeria, nem melancolia, nem misteria. iremos todos para o panteão do que vier a seguir, se vier. anestesia?, qual anestesia?, é mesmo a sangue frio. o mundo?, lá estás tu com o mundo, já disse, deixa o mundo em paz. fumamos o cachimbo depois. sim, ceci n’est pas une pipe, mas não é isso que altera o que disse. parece que aqui, agora, já não podemos fumar. ai é?, dá aí lume, então.

referência

2004/2022 - O Marquês (danado por © sérgio faria).