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atelier de domesticação de demónios

caderno de variações sobre dores em dó menor, por O Marquês. 

31.10.06


canibal. matou o seu animal de estimação, preparou-o, temperou-o, cozinhou-o em lume brando e, depois, comeu-o. o seu animal de estimação chamava-se manuel. e, sobre a mesa, acompanhou-o com um vinho chique, de reserva selecta.

referência

26.10.06


inquietação, inquietação. a criança era irrequieta, caminhava para e por todo o lado, mexia em tudo, falava demais. ninguém conseguia ter mão no fedelho, tive que tomar providências, não é? por estar recorrentemente a ser perturbado e desejar sossego, o pai decidiu cortar um dedo ao cachopo. dado essa intervenção não ter surtido o efeito pretendido, uma vez que o infante permanecia frenético, tagarelando, revolvendo tudo e andando casa além, a consequência foi o crescendo do reparo pedagógico, consoante a necessidade percebida. depois do dedo, foi-lhe cortada uma mão. depois da mão, foi-lhe cortado um braço. depois do braço, foi-lhe cortada uma perna. o problema foi que, depois de cortada a perna, embora tenha acalmado, o puto ficou incapaz e excessivamente carente. pelo que o período de sossego paternal - que antes o pai ainda conseguia - passou a ser consumido pelos cuidados e afectos que a nova condição do cachopo exigia.

referência

7.10.06


le bataclan asylum, # iii. a dona do lupanar nunca consentiu a electrificação do estabelecimento. argumentava que a iluminação eléctrica era fria e destoava da decoração carmim bas-fond. as meninas rimam melhor sob a luz das velas. o tom das chamas trémulas permitia que, ali, as almas se disfarçassem com maior facilidade e irradiassem encanto. a essa luz os homens são mais cegos, libertam a imaginação, vêem o que desejam ver. uma das putas tinha uma cicatriz na face, mas a providência dos círios fazia-lhe uma beleza inverosímil, do que resultava ser uma das mais disputadas pelos clientes de primeira instância. eles vêem o que desejam ver, não o que se vê, o que está diante dos olhos. entretanto, lá em baixo, à porta do quarto redondo, estacionou-se uma sombra larga. então?, já chegou a alguma conclusão? o detective quase ignorou essa presença estranha, embora do corpo que fazia tal presença exalasse uma fragrância de lavanda forte. o espectáculo do apodrecimento da carne do cadáver havia soltado em si uma majestade de abutre. quão belo... arrebatado, susteve a respiração. também baixou os olhos, tentando livrar-se da sensação estranha que o dominava. ao mesmo tempo que sentia a volúpia da carne pútrida, sentia uma felicidade infame a instalar-se-lhe no corpo. o que observava exercia um fascínio magnético sobre si. e era isso, mais do que o imperativo de tranquilidade ou de expiação da culpa, que o fazia desejar ficar só. afaste-se!, não incomode!, necessito de solidão para desenvolver a investigação. estava preenchido por um efeito simultâneo de exaltação e de penitência e não conseguia harmonizar-se consigo. havia uma fraternidade interdita nos seus sentimentos que lhe exigia a entrega da alma, como se fosse ditada por um édito perpétuo e sem apelo. por que é que não me responde? o cheiro intenso da decomposição do cadáver parecia-lhe mais doce do que fétido. talvez por isso crescia-lhe e confirmava-se a necessidade de estar ali sem qualquer companhia, a absorver todo o quadro lúgubre que o envolvia.

referência

2004/2022 - O Marquês (danado por © sérgio faria).