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atelier de domesticação de demónios

caderno de variações sobre dores em dó menor, por O Marquês. 

31.12.07


o princípio do fim, ii. como estão as tuas coisas? mal. e tu? pior. talvez seja melhor travares. ou desligares. off no botão, percebes? deixa as coisas acontecer. o fim é inexorável. mas lava as mãos, primeiro, para estares preparado. Já experimentaste voar sem asas? e sem coração? é igual, não te preocupes. não, o dealer não passou por aqui. é a época de saldos, ele nunca passa aqui na época de saldos. está bem, está bem, apresenta-se uma reclamação amanhã. se preferires, pode ser apresentado um dossier. é como quiseres. já estás a ver os veados? é porque a anestesia está a começar a fazer efeito. os coelhos devem estar a aparecer não tarda. podes entreter-te a contá-los. não, é normal. o mundo já começou a acabar. agora é a continuação apenas.

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29.12.07


o princípio do fim, i. olá, boa noite, está a começar o fim do mundo. Estão a ouvir o ground control a chamar o major Tom?, é a senha. é só para dar uma ideia, sem comprimidos proteicos ou capacete. o fim do mundo começou. há-de também acabar. quase no último instante talvez ainda venham a ouvir a mesma voz a cantar ao contrário, major Tom’s a junkie. não se iludam. o fim do mundo é o fim do mundo. sabe-se lá o que virá depois. não há delírios com esse tamanho. começou o fim do mundo, este é o único dado certo. o resto é funk to funk.

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25.12.07


o natal de mister Burton. o mister Burton é uma pessoa que gosta muito muito do natal. gosta muito muito, não muito apenas, porque a época é muito muito especial, não muito especial apenas, de acomodação fraternal e comercial. gosta tanto tanto que, para nada desperdiçar da quadra, na ceia natalícia nem come bacalhau nem come peru, come pinguim, que, como o bacalhau, é do mar e, como o peru, é uma ave. esta noite, porque véspera do dia de natal, o mister Burton esteve muito muito feliz, pois. mas não esteve tão tão feliz como nos anos anteriores. por isso ficou tétrico tétrico. mais do que deveras triste duas vezes. cortou o pulso esquerdo. cortou o tendão do pé direito. cortou o tendão do pé esquerdo. atirou a faca para longe, para não a poder alcançar. depois arrependeu-se. porque, se ainda pudesse alcançar a faca, poderia ter cortado o pescoço também.

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21.12.07


rua de monte carlo. estado quase Stockhausen, tom bushmills. uma mão sobre Ludovico Ariosto, outra amparo. medo do tempo, de que comece mais cedo. um compasso de espera, improviso? ou infinito? ali o desejo tem um nome, frio. que lá fora seja lavrado ou soprado, tanto faz. basta que seja, como quase sempre é. e no momento de fechar o livro, de começar a retirar um ponto à ignorância cujo tamanho nunca se sabe, ainda mais quase Stockhausen e o tom, o mesmo, reforçado. aproxima-se a nossa morte, não a nossa senhora. Ludovico Ariosto posto sobre William Blake. arrumado, pode dizer-se. a nossa morte apenas, não a nossa senhora da nossa morte. foi ali, justamente ali, com o afastamento da mão direita, que começou o regresso.

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20.12.07


do amor com reticências. neste lugar de onde nunca perguntas, onde agora há sangue no chão, não sabes que as reticiências são a última rima do amor, e que é já demasiado tarde para poder ser diferente.

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19.12.07


as vésperas do profeta, ii. a filha mais velha de Betânia começou a dissertação sobre a diferença entre o bem e o mal, informando sobre o que consiste um e outro, detalhando com cuidado e pedagogia o modo como se consubstanciam e transmutam. deveras atenta, a audiência era constituída exclusivamente por mulheres, postas, sentadas ou deitadas, em torno da prelectora, que escutavam e, por ocasião de uma dúvida ou de um sobressalto, com quem dialogavam. fascinado e ao mesmo tempo temeroso, encolhido num recorte esconso e umbroso do auditório, sem que elas se tenham apercebido, um rapaz acompanhava as palavras pronunciadas e escrutinava os gestos e os movimentos graciosos das mulheres. Ruben, este é o nome rapaz, era vergôntea ainda verde e estava espantado por as mulheres não parecerem o demónio que os anciãos insistentemente haviam-lhe feito crer que elas eram. não, ele testemunhava-o ali, elas não eram o demónio. decididamente, elas não eram o demónio apregoado pelos mais velhos. para além disto, reforçou a sua convicção o facto de ser-lhe evidente que, naquela circunstância, elas estavam a aprender e a investigar o mal, para melhor procederem conforme o bem e em prol do bem. fosse por isto ou por outro motivo qualquer, o rapaz sentiu um estremecimento estranho no corpo. a acompanhar tal estremecimento, também vieram calores e um entusiasmo insólito ao nível da cintura. naquele momento, não obstante a cena fosse magistral, olhando-as escondido, Ruben não demorou a ser tolhido por devaneios lúbricos, acontecendo nele uma concentração de pressões maléficas, que ele prontamente aplacou, sacudindo-as com a mão. desarmado e com remorso, que deus, em pai, em filho e em fantasma, me perdoe este desperdício de semente da espécie, derramada por mim, rogou ele indulto ao capítulo divino. rogo que, depois dos gemidos e ruídos espasmódicos, o colégio de mulheres ouviu também. percebendo o que havia sucedido, a consequência nelas foi o despertar súbito de um modo irado, que não conseguiram suster e que lhes suscitou actos e comportamentos graves. de que resultou o facto de o corpo do rapaz ter sido brutal e literalmente destroçado pelas mãos e pelos dentes das mulheres. durante o princípio da carga colérica, o rapaz ainda tentou o seu socorro, balbuciando algo, foi uma mão invisível. na história da humanidade, esta foi a primeira vez que o nome mão foi conjugado com a predicador invisível. mas, constatando a mácula de seiva, produto do derrame do rapaz, as mulheres não tiveram melindre suficiente para absolver tamanha falha e continuaram. foi sobre este acontecimento que o mundo continuou também.

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6.12.07


as vésperas do último profeta, i. às vezes o rapaz entra em êxtase bíblico. em rigor, o rapaz entra em delírio. e deus ali, defronte dele, à espera, sem chamar, apenas à espera. são assim as epifanias. até que o rapaz decide atender-lhe e pergunta-lhe estás à espera de alguém?, pá. deus, criatura muda, não responde, obviamente. também não faz gestos, não envia sinais. nada. tenta a telepatia, mas, por qualquer contingência cujo controlo lhe escapa, não consegue o contacto com o rapaz. vai daí, cansado de esperas, o rapaz provoca-o, chama-lhe cabrão, meu grande cabrão. o possessivo é mesmo para o atenazar. ora, porque deus não é criatura de levar desaforos para o céu, resulta da provocação referida um combate. deus de um lado, o rapaz do outro. na circunstância acontece sempre um fenómeno que não permite acompanhar o combate. nuns casos levanta-se um véu de poeira, noutros casos baixa um lençol de nevoeiro denso. não se percebe o que acontece, portanto. quem golpeia quem, com que força, com que gesto, com que eficácia, com que eficiência. nada. ouvem-se as onomatopeias típicas de uma cena de pancadaria, pim, pam, pum, pumba, tau, trau, tunga, trufa, zás, mais gemidos, gritos e silêncios. convém não esquecer que deus é mudo. embora não seja possível assistir ao combate, a história acaba sempre do mesmo modo. assenta o pó ou desvanece-se o nevoeiro. e vê-se o rapaz sozinho. que nunca saiu de qualquer contenda coxo, que foi como Jacob saiu, ao passar um vau qualquer do testamento antigo.

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2004/2022 - O Marquês (danado por © sérgio faria).