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atelier de domesticação de demónios

caderno de variações sobre dores em dó menor, por O Marquês. 

16.2.05


gone with the wind. o ti miraldino era moleiro. fazia farinha, de milho, trigo ou centeio, no seu moinho de vento. dessa farinha o geraldes, rapaz estouvado e das noites, obrava o pão nosso e de cada semana. naquele lugar remoto, assim foi a ordem das coisas e dos ofícios até um dia. dia fatídico. aquando a véspera das massas e da respectiva cozedura, foi geraldes, na habitual visita de negócios, ao moinho do ti miraldino. demandava ele as farinhas para, no dia seguinte, com as suas mãos, conceber e celebrar o pão da comunidade e de algumas vizinhanças. porém, o velho miraldino, já folgado de algum juízo, não o esperava com os costumeiros modos. entregue à solidão da viuvez, sem filhos ou outra criação, nos intervalos do seu rengorrengo, o ti miraldino, que na mocidade fôra às letras à outra banda da raia, havia-se posto à leitura integral, na versão autêntica, castelhana, de el ingenioso hidalgo don quijote de la mancha. o que lhe sugeriu estranhas manias à cabeça. que o seu moinho de vento era um gigante, necessitado de protecção, em razão das ofensas que lhe seriam tentadas por um cavaleiro andante fora de moda, fulano falho em trambelho. por isso, quando o geraldes se aproximou, cavalgando a sua motorizada, uma zundapp, com um seirão à rectaguarda, o ti miraldino, ciente da necessidade de velar pelo gigante à sua guarda e sentinela, sem pestanejo ou piedade, assestou-lhe no corpo dois cartuchos, como se ele fosse peça de caça. e mais fez. entregou a carne do desgraçado, talhada, às pedras para que, como o saturno de goya, pudesse o moinho devorá-la, ainda que não fosse de um filho seu. e assim, animadas pelo vento, fizeram as mós um farelo inédito, mistura de miolo e osso, à qual foi deduzida o sangue, farelo do qual geraldes não pôde fazer pão. porque, para além de ter sido moído, fazia ele pão apenas com farinha de milho, trigo ou centeio e com nenhuma outra, qualquer que fosse, mesmo se produto de moedura ajudada pelo vento daqueles montes.

referência

14.2.05


o jogo dos enganos. ela, ainda demoras muito?, aí?, com isso. ele, não. porém demorou. tanto que ela, magoada, se foi embora, para o magoar. mas desculpou-se, dizendo, mentira, que estava com sono. não estava.

referência

11.2.05


ausência. um dia ela caiu e ele não estava lá, perto, para a segurar antes de chegar ao chão, onde, quando se cai, a dor sempre se confirma.

referência

2.2.05


programa de gestos para uma dor tangível. abre as mãos. estende-as. entrega-as à sua frente. com elas sonda o vazio. apalpa a sensação estranha de nada. e nelas, nas mãos, decide acolher o inefável que paira. acolhe as dores, as dores que passam à sua frente. são as dores dos outros. as únicas para as quais as mãos, se estendidas e abertas, guardam sensibilidade suficiente. depois cerra as mãos. e nelas transcorre um fulgor que jamais se deseja largar. às vezes esse fulgor cresce. cresce para sempre, para ser vício e costume. cresce tanto que nele se descobre o sangue. o sangue de uma aliança, de um cálice, de um vaso. e dos outros, apenas deles, é o sacrifício de onde promana esse sangue, forma líquida da dor.

referência

2004/2022 - O Marquês (danado por © sérgio faria).