2.2.05
programa de gestos para uma dor tangível. abre as mãos. estende-as. entrega-as à sua frente. com elas sonda o vazio. apalpa a sensação estranha de nada. e nelas, nas mãos, decide acolher o inefável que paira. acolhe as dores, as dores que passam à sua frente. são as dores dos outros. as únicas para as quais as mãos, se estendidas e abertas, guardam sensibilidade suficiente. depois cerra as mãos. e nelas transcorre um fulgor que jamais se deseja largar. às vezes esse fulgor cresce. cresce para sempre, para ser vício e costume. cresce tanto que nele se descobre o sangue. o sangue de uma aliança, de um cálice, de um vaso. e dos outros, apenas deles, é o sacrifício de onde promana esse sangue, forma líquida da dor.
2004/2022 - O Marquês (danado por © sérgio faria).