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atelier de domesticação de demónios

caderno de variações sobre dores em dó menor, por O Marquês. 

15.5.13


quaresmas, ii. era tão frequentada por coisas más, fome, tanta que passei, miséria, tanta que tive, que aquilo tudo revoltou-me, como não haveria isso?, não podia ser, não fui nada e criada para viver daquela maneira, de modo que pareceu que então é que as coisas iam para diante e que não tornaria a ter que encontrar-me como me encontrei naquele tempo atrasado. revoltei-me, fui à luta com o alento e o entusiasmo todo de quem está a ver as coisas a poderem melhorar. andei por lá, noites e dias, dias inteiros naquilo, manifestações e assim, outras saídas do género, empenhada no bem que via e que vinha, a reivindicar direitos que não queriam que fossem nossos, pior, que queriam que não fossem nossos, como se o tempo de trás tivesse que durar para sempre da maneira que era. e o meu homem lá na cama, quebrado, coitado, dado ao mal que haveria de o roubar de mim, a sofrer. eu abalava e antes pedia às vizinhas que, se preciso, o acudissem, uma pinga de água, uma migalhita de pão, e elas iam. estava errada, eu ia e não devia deixá-lo ao deus dará, mas era uma força que fazia com que eu precisasse de ir e eu ia, errada, mas ia, até que ao fim e ao cabo tudo acabou. depois da liberdade larga e disparada não houve mão, veio a desorientação, a desorganização, cada um para o seu lado, como é que hei-de explicar?, vamos lá ver se eu consigo, perdeu-se aquela união, a preocupação de uns com os outros, voltámos a arrumar-nos quase ao que era antes, quase, quase, quase o mesmo, consegui explicar-me?, daí a tristeza que me anda no coração, carrego-a no peito, contristo-me por não termos sido capazes de agarrar a chance e termos deixado cair no chão o que estávamos a fazer, tanto passo para diante, tanto avante, e no fim de contas voltámos quase ao antigamente, como se não tivéssemos andado para frente, como se não tivéssemos empurrado as coisas, quase, quase o mesmo, é essa a causa da minha tristeza. fui mais feliz revoltada do que o que sou hoje. a fome e a miséria andam aí outra vez à solta e as pessoas a que calham não têm como defender-se, não conseguem defender-se. é triste, uma tristeza que dói. perder outra vez custa mais do que perder apenas uma vez, com a diferença de que da primeira vez nem sabíamos que tínhamos perdido, o que tínhamos perdido. uma tristeza, digo outra vez.


2004/2022 - O Marquês (danado por © sérgio faria).