15.8.12
Moriarty morreu?, xii. não quero continuar a mentir, a mentir-te, a reflexão do verbo aturdiu-o, preciso de libertar-me. a raiva impulsionou-lhe a reacção, a confissão não vai libertar-te, estás apenas a fazer-me sofrer, puta, pensou ainda o insulto, não o afirmou. depois libertar-te-ás. ele não conseguiu admitir esse cenário, mas agora estou a sofrer por causa de ti, o momento era avassalador, como se o tempo estivesse estancado e não fosse possível sair dele. antes não sofrias por causa de mim porque a mentira anestesiava-te. acusou-a, puta, de pé, com a voz ainda mais grave, porém sem gritar. sou porque deixei de ser capaz de fingir o que não quero fingir, ela tentou a defesa. uma mentira grande, sempre?, uma combinação de desespero e fúria causou a interrogação. não. amei-te. sentiu o pretérito perfeito do verbo como uma agressão. sentiu-se mal, o ritmo cardíaco acelerado, as mãos suadas. tentou agarrá-la. ela esquivou-se. agarrou-a. larga-me. apertou-a com mais força. puta.
8.8.12
Moriarty morreu?, xi. a tensão proporcionada pela velocidade acrescenta rapidez ao carro. ouve-se o rugido do motor, como nos filmes. na terceira, gritado embora não como ordem, vira à esquerda. uma hesitação súbita, o sentido era proibido, apenas uma descarga de adrenalina, o pé não aliviou o pedal do acelerador. é mais rápido por aqui? os olhos de ambos focados no limite da rua. talvez, sente-se o vôo, pelo menos evitamos os semáforos e o trânsito das paralelas.
1.8.12
Moriarty morreu?, x. os corredores, os gabinetes, as paredes, o chão, tudo parece amarelo. hoje vou voltar tarde, desculpa. ela pressentiu o desânimo, tanto o dela quanto o dele, mas foi firme. não faz mal, tem cuidado. já comeste? não te esqueças de comer. um murmúrio, amo-te, para evitar que fosse ouvido pelos outros e interpretado como fraco. eu sei, é bom ouvir isso, não te preocupes, eu espero por ti, eu fico à tua espera. olhou em volta, tudo continuava a parecer amarelo.
2004/2022 - O Marquês (danado por © sérgio faria).