25.5.11
o Ruben bala. na repartição de finanças declarou como profissão domador de hipopótamos, palhaço e homem-bala. omitiu ser montador do estaminé, quase estivador, martelar cavilhas gigantes no chão e esticar os cabos que elevam e sustentam a tenda. actualmente o negócio está mau. embora muita da renda seja ao negro, os espectadores não abundam e, assim sendo, o escapismo fiscal não rende. a história faz lembrar ein hungerkünstler, o conto de Kafka. disparado a mais de duzentos quilómetros por hora, está assim estampada a promoção do espectáculo num dos camiões do circo. na verdade não é o que possa julgar-se. Ruben é projectado e cai numa rede. é apenas isto. apesar dos nervos, das vozes sussurradas e do rufar dos tambores, é triste.
18.5.11
Açucena, a manicura. a mão é como a alma, nutre-se sobretudo do que lhe providencia felicidade, artesanato, masturbação, pugilismo ou qualquer outro modo de amanho. a mão, zás, já está, o cliente gritou e recolheu os dedos, é um dispositivo de ligação directa ao mundo.
11.5.11
mistério. o guerreiro voltava a casa e entregava a espada à esposa para que, com o cuidado devido a qualquer arma usada, fosse limpa. seguindo a tradição da estirpe, ela limpava-a com lenços de linho, ensanguentando tantos quantos fossem necessários, que depois lavava em água corrente e abundante. um dia, sem porquê, ela não usou os lenços para limpar a espada, lambeu-a. e desde então ansiou que ele voltasse mais rápido das batalhas e que o intervalo entre elas não demorasse tanto. ao contrário do que possa julgar-se, ela não foi ficando mais nova a cada regresso do marido dos combates, não, ela envelheceu ao ritmo dele. para além disto, as folgas da paz, que antes tanto desejou, tornaram-se um período de agonia para ela. até que, também sem porquê, iam as tréguas longas, dormia o marido o descanso dos guerreiros, ela golpeou-o vezes várias e sentou-se na cama de docel a lamber a espada. vindo em socorro por causa dos gritos ouvidos, a criadagem avançou incrédula para os aposentos e chorou o herói morto. por quem?, esta é uma dúvida que os investigadores jamais esclareceram.
4.5.11
pas de deux, ix. o modo melhor de atingir alguém, ela propôs a solução quase em êxtase, é matando-lhe os sonhos. sem eles deixa de crescer, fica à mercê. ele assentiu, antes de, ups, primir o gatilho.
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