30.3.11
pas de deux, iv. ela, desculpa, disse, levantou-se e foi lavar-se. ele, desculpa?, porquê? ela, por não amar-te, explicou. ele levantou a voz, acabámos de foder e agora, só agora, é que vens com essa conversa. sabes o quão humilhante isso é?. ela, sei, confessou. ele gritou, sinto-me usado, como se fosse um animal, um bocado de carne. ela, desculpa, repetiu. ele continuou exaltado, e estares a pedir desculpa só aumenta a minha sensação de humilhação. e ela, eu sei, assentiu sem piedade, eu sei, sem comiseração.
23.3.11
pas de deux, iii. ele, o amor é um acidente, disse, ao mesmo tempo que conjugava frutos secos, nozes e passas, e um fio de baba. ela, julgo que não, julgo que o amor é um desastre, em tom de assento filosófico.
16.3.11
pas de deux, ii. sou imortal, estou morto, estou morto por engano, admito. se a morte, se o engano, não se sabe o que ele admite. ela espetou-lhe um garfo no peito, atingiu-lhe o coração, o ventrículo esquerdo, o lado preferido dele.
9.3.11
pas de deux, i. esta é uma história de amor em que ele diz seria melhor se não nos amássemos. ela não reage, sabe que a vida existe além das orações.
2004/2022 - O Marquês (danado por © sérgio faria).