16.12.09
cerca de meia hora, iii. no escritório. está on, está a gravar. ela e ele arrumaram-se na cena, em posições diante da câmara. eu acho que temos de morrer, ela começou assim a declaração. agora?, ele inquietou-se, não nos podemos precipitar, a morte tem hora certa. ela insistiu, temos de morrer, ser breves na morte, só isso. ele preparou primeiro o corpo, preparou depois o agrafador. ficaram quietos e calados durante seis minutos. acho que já está na hora, na hora da nossa morte, estimou ela, cortando o silêncio. ele testou-a, tens a certeza?, e olhou para o relógio. ela confirmou, tenho, ao mesmo tempo que inclinou a cabeça para diante, até encontrar a fronte com a secretária. ele matou-a, não tanto com os agrafos vinte e quatro seis, normais, que mal penetraram no escalpe dela, quanto com a contundência das pancadas que desferiu. depois, constatando-a inanimada, recusou suicidar-se. virou-se para a câmara, procurou a hipótese de um grande plano e, já estás, disse, já está.
2004/2022 - O Marquês (danado por © sérgio faria).