30.9.09
apólogos de Pascal, ii. votei as primeiras vezes que esse direito esteve disponível para mim. fiz parte do colégio sufragador, votei com implicação e entusiasmo. usei uma esferográfica bic cristal de tinta vermelha. não bastava fazer uma marca, senti que era necessário mais, fazer diferente, fazer a diferença. depois decidi fazer uma experiência, apurar em que medida o meu voto era relevante. constatei que nenhuma diferença fazia, nada acrescentava ou retirava ao acontecido. ou seja, o resultado eleitoral não era afectado em proporção significativa pelo meu voto ou pela minha abstenção. daí em diante comecei a esquecer-me de ir votar. e apercebi-me que uma cruz no boletim de voto, uma cruz apenas, não permitia expressar-me conforme a minha vontade. Jesus suportou uma cruz, só uma, padeceu nela, mas isso foi há muito tempo. agora os totos da santa casa da misericórdia de lisboa permitem várias cruzes e combinações. há quem diga que isso aumenta as probabilidades de acerto. creio que não é esse o problema. o problema é de expressão, de dor. uma cruz é pouco.
2004/2022 - O Marquês (danado por © sérgio faria).