<body><script type="text/javascript"> function setAttributeOnload(object, attribute, val) { if(window.addEventListener) { window.addEventListener('load', function(){ object[attribute] = val; }, false); } else { window.attachEvent('onload', function(){ object[attribute] = val; }); } } </script> <div id="navbar-iframe-container"></div> <script type="text/javascript" src="https://apis.google.com/js/platform.js"></script> <script type="text/javascript"> gapi.load("gapi.iframes:gapi.iframes.style.bubble", function() { if (gapi.iframes && gapi.iframes.getContext) { gapi.iframes.getContext().openChild({ url: 'https://www.blogger.com/navbar.g?targetBlogID\x3d8193618\x26blogName\x3datelier+de+domestica%C3%A7%C3%A3o+de+dem%C3%B3nios\x26publishMode\x3dPUBLISH_MODE_BLOGSPOT\x26navbarType\x3dBLUE\x26layoutType\x3dCLASSIC\x26searchRoot\x3dhttps://atelier-de-domesticacao-de-demonios.blogspot.com/search\x26blogLocale\x3dpt_PT\x26v\x3d2\x26homepageUrl\x3dhttp://atelier-de-domesticacao-de-demonios.blogspot.com/\x26vt\x3d-8248105175353944812', where: document.getElementById("navbar-iframe-container"), id: "navbar-iframe" }); } }); </script>
atelier de domesticação de demónios

caderno de variações sobre dores em dó menor, por O Marquês. 

24.6.09


Ludovico, o prometido dos outeiros. um rapaz às direitas, um homem sério, é o que dizem dele. ele é assim. e não é assim de alvor recente. saiba-se que ele trepou a ladeira da vida por si, sem amparo ou obséquios de parentes. e que reconhece-se-lhe honra e virtude na trajectória e no presente. é um filho da terra, agora crescido. que fosse chegado aos que mandam e que com o tempo e as marcas do destino feito pelo nascimento se tenha feito um desses que mandam revela pouco dele. alguém teria que cumprir tal missão, de mandante, pelo que, sendo honrado e virtuoso, antes ele chamado para o ofício da autoridade do que outra ou outro menos recomendável. que hão em abundância. poderia ser alguém conivente com desatinos e desmandos do chefe ou complacente com isso. poderia ser alguém habituado aos jogos de influência, às manivérsias administrativas - que é o poder dos sentados -, com a tentação de tirar benefícios num plano das vantagens que tivesse em outro - que é o poder dos arrivistas. poderia ser alguém que em circunstâncias determinadas encarnasse interesses contraditórios e não se incomodasse com o facto. poderia ser alguém que representasse os interesses de uma parte pública em caso em que houvesse interesses de parte particular que ele representasse também – e não tão mal. poderia ser alguém que, por conta da sua responsabilidade directiva numa agremiação de recreio, recebesse patrocínios de oficinas e lojas que, ao mesmo tempo, fornecessem ou prestassem serviços ao couto de cuja comissão ele fizesse parte ou amparos de gente abastada e de negócios dependente e expectante da emissão de alvará ou licença por esse mesmo couto. poderia ser alguém que tratássemos por tu e que pudéssemos envergonhar, mostrando-lhe que, por haver informação sobeja sobre ele em arquivo, sabemos que não é e não pode ser diferente dos outros, com quem se misturou, em honra e virtude venais. ele, o morgadinho prometido, que deixou de ser guarda-redes e já foi guarda-livros.

referência

17.6.09


ainda o Hipólito do centro de sondagens. não é uma questão de vida ou morte, é uma questão de honra. como o dinheiro e a força, mais do que um factor de distinção, o estatuto é um factor de anestesia social. a honorabilidade e o reconhecimento livram as pessoas de si, isentam-nas da miséria e até sensação da miséria própria. margens de erro e intervalos de confiança são parâmetros estatísticos. aconselho-te a esquecê-los por alguns instantes. cinge-te à evidência. não tires ilações, não faças extrapolações. entende-me como juiz do mérito profissional teu. neste momento não posso ser mais sincero contigo, recomendo-te estupidez e descontracção natural. a política é a vida de muita gente, as projecções com base em sondagens também. escolhe um dedo. escolhendo um dedo, ele há-de escolher uma mão, um braço, uma sequência determinada. eu não jogo com probabilidades, proponho consequências. por isso escolhe com cuidado. ele transpirava diante do outro. havia percebido que sobre a bancada estava disposta uma panóplia de ferramentas, algumas das quais ele desconhecia o serviço que permitiam. escolhe um dedo, o outro insistiu a ordem. esse?, escolha boa. na circunstância qualquer dedo teria sido escolha boa. o compasso cardíaco dele acelerou. agora escolhe outra vez, o alicate? ou o martelo? o outro pegou o martelo, passou-o diante dele e bateu-o na bancada. o alicate? pela escolha que fizeste, deduzo que não sejas comunista. a sala era lúgubre, própria para a cena. uma telefonia de válvulas soltava a emissão regular de uma estação de rádio em frequência modulada. (i can’t get no) satisfaction, a canção que se ouvia, parecia ressoar-lhe nos tímpanos. um foco de luz branca incidia-lhe nos olhos. os braços dele estavam suspensos e esticados por tensores. um cabo de aço rasgava-lhe a carne dos pulsos. ele sentia ardor, apesar da dormência dos membros. ofuscado, não conseguia ver as suas extremidades. sentia apenas a força que o puxava. o outro pousou o martelo, agarrou o alicate e, atrás da luz, um dó li tá, começou a toada, batendo as maxilas da ferramenta, indiferente à escolha do dedo que ele tinha feito.

referência

3.6.09


o Hipólito do centro de sondagens. julgo que não, aconteceu tudo de repente, disse ele, há coisas que acontecem assim, sem sabermos o motivo delas. a posteriori somos todos heróis, conhecemos a trama e o desenlace, o futuro já não é o mistério que foi. não devemos confundir anarquia com anomia, propôs ela, e, do mesmo modo, não devemos iludir a hipótese da contingência, a força da contingência. quem é Esch? para coisas mais simples uso o excel, serve perfeitamente, explicou ele. a tragédia não podia ter sido evitada.

referência

2004/2022 - O Marquês (danado por © sérgio faria).