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atelier de domesticação de demónios

caderno de variações sobre dores em dó menor, por O Marquês. 

28.1.09


o senhor Albuquerque. vamos facilitar as coisas, tu vestes um vestido de noite, eu levo casaco e gravata. acendemos a lareira, encomendamos uma pizza, bebemos vinho de uma garrafa cara. também podemos optar por hamburgueres. big mac é o que preferes, não é? o vinho mantém-se, não abdico do vinho. bebemos café, tu descafeinado, que não sei se é café. vemos um filme, uma comédia romântica, nada de Woody Allen. eu ponho o meu braço sobre os teus ombros. depois conduzo o carro porque sou homem e tu podes chorar porque és mulher e costumas emocionar-te no cinema. eu passo a mão pelo pára-brisas, para o desembaciar, e tu guardas as mãos entre as pernas, como um miúdo envergonhado, por causa do frio. eu ligo a chauffage. fumamos, tu sg lights, eu marlboro - deixei as cigarrilhas. circulamos devagar, espreitamos a lua e os néons da cidade, vemos as montras e as putas encostadas à parede nas esquinas. se tudo correr bem, tu não gritas e eu não te magoo.

referência

21.1.09


o senhor Lobo Antunes. por causa de um cabo para o ipod, que não encontrou, cuspiu na sogra, esbofeteou um dos sobrinhos, pontapeou o gato, o gato arranhou-o na cara, foi à casa de banho pôr água oxigenada nos sulcos lavrados pelas unhas do bicho, comeu a sopa fria - porque a mesa para jantar já tinha sido posta e o prato servido há bastante tempo -, gritou, esmurrou a esposa, a mão ficou a doer-lhe, partiu três copos e a terrina, mandou a bimby ao chão, empurrou uma cadeira contra o fogão, fez voar o pão e alguns talheres à altura das sanefas, disse quem me dera ser muçulmano para não sofrer assim, benzeu-se com o sinal da cruz e, por conta de toda esta agitação e dos gritos, o gato continuava assanhado, a jarra com flores de plástico que estava sobre o louceiro tombou e lascou, a esposa clamava com histeria foi a minha mãe que me deu esta jarra, não tinhas o direito de a estragar e ele, porque a lua não estava em quarto crescente, assestou mais umas porradas na esposa, na sogra que acorreu em defesa da filha e no sobrinho que ainda não tinha parado de chorar e, embora soluçando, parecia estar a querer começar a uivar.

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14.1.09


diário dos canibais, iii. Tomás não se mostrou surpreendido e disse confirmo, era tão doce e tenra quanto, após prova, havia admitido antes, com a vantagem de, assim, não se sentir o incómodo da penugem púbica no palato.

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2004/2022 - O Marquês (danado por © sérgio faria).