<body><script type="text/javascript"> function setAttributeOnload(object, attribute, val) { if(window.addEventListener) { window.addEventListener('load', function(){ object[attribute] = val; }, false); } else { window.attachEvent('onload', function(){ object[attribute] = val; }); } } </script> <div id="navbar-iframe-container"></div> <script type="text/javascript" src="https://apis.google.com/js/platform.js"></script> <script type="text/javascript"> gapi.load("gapi.iframes:gapi.iframes.style.bubble", function() { if (gapi.iframes && gapi.iframes.getContext) { gapi.iframes.getContext().openChild({ url: 'https://www.blogger.com/navbar.g?targetBlogID\x3d8193618\x26blogName\x3datelier+de+domestica%C3%A7%C3%A3o+de+dem%C3%B3nios\x26publishMode\x3dPUBLISH_MODE_BLOGSPOT\x26navbarType\x3dBLUE\x26layoutType\x3dCLASSIC\x26searchRoot\x3dhttps://atelier-de-domesticacao-de-demonios.blogspot.com/search\x26blogLocale\x3dpt_PT\x26v\x3d2\x26homepageUrl\x3dhttp://atelier-de-domesticacao-de-demonios.blogspot.com/\x26vt\x3d-8248105175353944812', where: document.getElementById("navbar-iframe-container"), id: "navbar-iframe", messageHandlersFilter: gapi.iframes.CROSS_ORIGIN_IFRAMES_FILTER, messageHandlers: { 'blogger-ping': function() {} } }); } }); </script>
atelier de domesticação de demónios

caderno de variações sobre dores em dó menor, por O Marquês. 

9.9.08


o parque. eram viagens cansativas, quando não durante a estadia, pelo menos na volta. muitas vezes o regresso cansa mais do que a ausência, é um facto. não é difícil explicar porquê. à partida e antes acontece a euforia, porque, mesmo que remotamente, a abalada significa aventura. em consonância com isso, a cabeça e o corpo dispõem-se ao desconhecido e, portanto, à descoberta. vais porque queres ir, por ti, para ti, não é? uma pessoa é uma espécie de destino volante, com origem e retorno. diz-se que a identidade é tonificada pelo sentido de exílio. de quando em quando a permanência transforma-se em tédio, tédio que, por sua vez, motiva uma esperança que se cumpre na ideia de saída. sabes como é, um gajo vai preparado para epifanias que nunca acontecem e a partir de determinado momento começa a sentir vontade de tornar aos seus circuitos, às suas monotonias. ainda que errante, um viajante leva consigo a saudade dos seus espaços e das suas cadências quotidianas, como se, porque preenchem rotinas, fossem dispositivos de protecção civil e pessoal. é uma questão de demora, porém fatal, porquanto inescapável, o despertar dessa saudade levada. fatal, reitere-se. o apelo da máquina é forte. longe, uma pessoa sente-se uma peça fora do mecanismo, tão deslocada quão sem função, pelo que mais tarde ou mais cedo deseja voltar a integrar-se na ordem que, antes, teve vontade de deixar. mas, e esta é uma nuance importante, não de deixar definitivamente. o hábito entorpece e liquida as outras hipóteses, opera como uma âncora do princípio, do que foi anterior. um gajo não está preparado para gramáticas estranhas. durante algum tempo pode contemplar a diferença, feita de paisagem e outros, mas tal diferença parecer-lhe-á sempre estranha. dentro de quem vai pulsa um sangue doméstico, feito de certezas, todas as confirmações anteriores e conquistas que, mesmo que não sentidas, são suas e inalienáveis. inscrevem-se numa sedução que penetra o corpo e instala-se aí, sem aviso, sem instância de recurso. como o transporte do tempo, o regresso é inevitável. agora, quando viajo, canso-me com mais facilidade. também tenho menos hipóteses de viajar. consequência?, asilo-me aqui e exilo-me próximo. ocasionalmente, sem ritual, pego na carabina, desloco-me até ao parque, escolho um local, ainda não repeti qualquer dos locais escolhidos, coloco-me em posição furtiva e deixo-me ficar assim. entretanto escolho um alvo, não interessa quem, uma criança a brincar no balancé ou no escorrega, um velho a jogar às cartas, um namorado sentado na relva ou num banco, um transeunte, fixo-o e disparo. um tiro apenas. depois, consoante a hora, regresso a casa ou sigo para o escritório. é menos cansativo. em cada um de nós há domiciliada uma pátria, uma comunidade que não é imaginada. é dela que promana a segurança ontológica de que necessitamos. crescemos com ela, como costume, como trato diário, e é ao seu apelo que, pelo retorno, correspondemos. não há saída. se tivesse que resumir a minha condição, diria que sou um diletante. romântico?, não, isso já não sou. há sete anos que tenho um pacemaker.


2004/2022 - O Marquês (danado por © sérgio faria).