25.3.08
a cilada. conta-se que, se quisesse, ele poderia ter-se furtado ao suplício. de facto, diante do horizonte tenebroso que o esperava, ele ponderou esquivar-se. chegou a rogar a intercedência do pai, no sentido de ser poupado ao martírio. todavia, omnipotente, o pai confirmou-lhe o sofrimento. os da nossa estirpe não se rendem, sofrem e vingam-se. no entanto, a vingança exige motivo. tu, meu filho, como entregue e condenado, és a condição necessária da vingança que planeei. por vontade minha, serás o motivo da minha vingança, embora, magnânimo, conceda que a minha ira subsequente será por ti e em teu nome, transmitiu-lhe uma voz crepitada do céu que apenas ele escutou, os outros ouviram trovões. não obstante os recursos próprios, suficientes para lhe valerem a salvação, ele acedeu ao plano paterno. consumou-se assim a justiça ditada divinamente. o filho de deus, posto em carne, padeceu e pereceu. o seu pai testemunhou a ocorrência tamborilando os dedos da mão direita, a mão justa, sobre o joelho correspondente. e, depois, confirmado o seu motivo, soprou as fúrias sobre os mortais, para ensinar-lhes a culpa. os mortais, cruéis e vingativos também, preferiram aprender a liberdade. mas deus enganou-os uma outra vez, propondo-lhes o perdão.
2004/2022 - O Marquês (danado por © sérgio faria).