28.6.07
uma mão sobre Philip Larkin, i. um olhar turvo sobre o mal. ainda mais turvo sobre o amor. da janela, topada com soberania na casa, não vislumbra qualquer alma viva ou morta. o calor sopra. sente o corpo a estalar, a exigir veneno, mais veneno ou outro veneno mais forte. chega-lhe o perfume dos frutos do pomar jacente, cujas árvores, puxadas para o plano da raiz, estão vergadas pela sede. por instantes fecha os olhos, como se tentasse evacuar a alma e ficar em comunhão telúrica com os elementos que deixou de ver. como com os graves, o peso da gravidade, a sua, impõe-se sobre os ombros. ouve com mais clareza as vozes, duas sobretudo. guarda contra o corpo a mão inquieta. as mulheres não se deixam tocar, as putas, as grandes putas. está cansado de observar as mães jovens, de as contemplar e desejar quando passam. começa a lubrificar uma vontade predadora dentro de si. o seu torso exige, clama, contacto com carne estranha. surge-lhe no rosto o primeiro esgar de prenúncio de gozo. imaginação apenas. abre os olhos. ainda a mesma paisagem revelada diante de si. depois pousou high windows sobre a mesa mais próxima, deslizou os dedos, em afago, sobre a capa e saiu.
2004/2022 - O Marquês (danado por © sérgio faria).