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atelier de domesticação de demónios

caderno de variações sobre dores em dó menor, por O Marquês. 

31.8.06


®. chegado a determinado momento da sua carreira de supliciador, entendeu que necessitava de um estilo, de uma marca de água. para si, o acto de magoar era fulgurante, mas, como não se inscrevia suficientemente na memória, na sua ou na dos outros, esgotava-se rapidamente o gozo decorrente de tal acto. obviamente que as vítimas teriam dificuldade em esquecer-se do que haviam padecido sob os seus tratos. isso, porém, não lhe era suficiente. ele necessitava que outros, os outros, lhe reconhecessem a obra. necessitava, portanto, de dar publicidade aos seus casos. a melhor forma que encontrou para cumprir o seu intento obedecia a uma lógica. a cada vítima cortaria um dedo da mão. depois de dez dedos cortados, à décima primeira vítima cortaria uma mão. depois de dez mãos cortadas, à centésima décima primeira vítima cortaria um braço. depois de dez braços cortados, a milésima centésima décima primeira vítima seria degolada. embora pacientemente gizado, o plano não surtiu o efeito desejado.

referência

2004/2022 - O Marquês (danado por © sérgio faria).