<body><script type="text/javascript"> function setAttributeOnload(object, attribute, val) { if(window.addEventListener) { window.addEventListener('load', function(){ object[attribute] = val; }, false); } else { window.attachEvent('onload', function(){ object[attribute] = val; }); } } </script> <div id="navbar-iframe-container"></div> <script type="text/javascript" src="https://apis.google.com/js/platform.js"></script> <script type="text/javascript"> gapi.load("gapi.iframes:gapi.iframes.style.bubble", function() { if (gapi.iframes && gapi.iframes.getContext) { gapi.iframes.getContext().openChild({ url: 'https://www.blogger.com/navbar.g?targetBlogID\x3d8193618\x26blogName\x3datelier+de+domestica%C3%A7%C3%A3o+de+dem%C3%B3nios\x26publishMode\x3dPUBLISH_MODE_BLOGSPOT\x26navbarType\x3dBLUE\x26layoutType\x3dCLASSIC\x26searchRoot\x3dhttps://atelier-de-domesticacao-de-demonios.blogspot.com/search\x26blogLocale\x3dpt_PT\x26v\x3d2\x26homepageUrl\x3dhttp://atelier-de-domesticacao-de-demonios.blogspot.com/\x26vt\x3d-8248105175353944812', where: document.getElementById("navbar-iframe-container"), id: "navbar-iframe" }); } }); </script>
atelier de domesticação de demónios

caderno de variações sobre dores em dó menor, por O Marquês. 

22.2.06


serial killer. como nos filmes. em tocaia, ele esperou-a na penumbra. hello darling, disse-lhe. ela procurou a origem da saudação, encontrou-o com os olhos. sorriu para ele. mas, súbito, o seu sorriso desvaneceu-se num esgar. dois tiros de beretta 92 fs, dois projécteis calibre nove, cravaram-se-lhe na carne. you tried to fuck me, you fucking slut!, exclamou ele, numa consumação retórica da sentença. e abandonou a cena. não demorou, porém, o remorso a alojar-se nele. afinal, descortinou depois, ela não o havia traído. a combinação de informações com base na qual ele lhe deduziu a culpa era equívoca. era facto que, ao contrário do que admitiu, ela nunca havia estado em memphis. já tarde, após o cortejo fúnebre, diante do féretro, quando o confortavam e lhe apresentavam as condolências, é que disso ele teve consciência. em consequência, atormentou-o a contrição e começou a padecer de sono vago, frequentemente cortado por pesadelos. a terapia a que se submeteu não surtiu efeito. sentia-se domicílio de um demónio permanente, arrumo de um fardo irrevogável. that’s a fucking hard situation, foram as últimas palavras que o psiquiatra lhe disse, reforçando a sua sensação de impotência perante a própria culpa. para superar a morte da amada, para livrar-se do cativeiro de dor em que vivia, iniciou casualmente uma campanha de mortes, mortes aleatórias, sem escrutínio. as vítimas não correspondiam a um perfil particular e ele não se vinculou a um modus operandi estrito. matava indiscriminadamente e de modo indiscriminado, consoante a oportunidade e o gozo. assim, ao útil associou o agradável, no sentido em que, morte após morte, ele sentia a diluição da culpa original e isso era-lhe prazenteiro. até que um dia, cansado, enjoado de testemunhar o estertor derradeiro das suas vítimas, como último acto de redenção, confessou detalhadamente todas as mortes de que fora autor a uma confidente. a qual, para acautelar uma eventual delação e aplacar possíveis sobressaltos, assassinou também.


2004/2022 - O Marquês (danado por © sérgio faria).