12.11.04
esfolar a amada. constantino apaixonou-se por miquelina. depois amou-a. sempre com uma intensidade mórbida. ela entranhou-se nele. de tal modo que ele ficou dependente do seu perfume, do seu cheiro. um dia miquelina quis soltar-se, fazer-se livre. nunca se apaixonara por constantino. também nunca o amou como ele a amava ou de qualquer outro modo. decidiu, por isso, partir, fugir. partiu, fugiu. mas o constantino foi no seu encalce. encontrou-a. segurou-a. envolveu-a num lençol. colocou-a no carro. e, com ela cativa, regressou decidido a casa. antes de chegar, porém, parou no velho moinho de água. entrou, carregando-a sobre o ombro direito. pousou-a na laje do chão. desenvolveu-a do lençol. rasgou-lhe a blusa. e com uma faca cortou-lhe a pele das costas e do peito. depois, acto contínuo, arrancou-a, como se fosse uma folha. a única saudade que tenho é do teu cheiro, por isso levo a tua pele comigo, disse ele, enquanto ela gritava a lancinante nudez da sua carne e a corrente da água e o ranger das rodas dentadas abafavam os seus agudos uivos de dor.
2004/2022 - O Marquês (danado por © sérgio faria).