13.10.04
campanha alegre. naquele ofício não havia facilidades. tudo custava. ainda assim, os homens pareciam felizes. entregavam-se às missões com decidido entusiasmo e nunca reclamavam das condições de trabalho, do horário ou da remuneração. um dia, porém, tudo mudou. num dos homens as costas rasgaram-se e, pelas escápulas, cresceram asas. as asas eram revestidas por uma plumagem clara. nasceu nessa data a vaidade, porque o homem asado, a quem passaram a chamar o anjo, entendia que o serviço lhe deslustrava as penas e, por isso, recusou-se a trabalhar entre a fuligem. aos outros, nesse exacto instante, fugiu a felicidade, mesmo que fosse uma felicidade fingida. tornou ela apenas depois de o dito anjo ter sido encontrado morto, com as asas arrancadas. os outros, para aplacarem a estranha sensação de miséria que lhes havia assomado, decidiram assassinar o desgraçado. e com requinte o fizeram, utilizando grandes alicates no feito. ninguém pode tolerar que um qualquer infeliz, por sortilégio da natureza, a quem lhe foram proporcionadas asas, possa destruir a alegria no trabalho. por isso, mas também por que lhes agradou participar no martírio do anjo, mataram-no. o marquês.
2004/2022 - O Marquês (danado por © sérgio faria).