8.9.04
pecado e castigo. sim, disse o rapaz, fui eu. ouvida a confissão, o sacerdote, ministro plenipotenciário, telúrico representante de deus, serviu-se de quanta ira conseguiu descobrir em si e, pelos seus actos, executou sumariamente a justiça divina. levantou-se, segurou um ceptro, contornou o confessionário e, com violência, atingiu repetidas vezes a cabeça do pecador, que, ainda prostado de joelhos, esperava o decreto da penitência. o corpo, vencido, tombou secamente sobre o soalho da capela. soou um ligeiro vagido. entretanto, o pároco olhou para as mãos. lambeu o pouco sangue que sobre elas se precipitou. sentou-se. apoiou-se no ceptro que utilizou contundentemente contra o crânio do rapaz. e, com enlevada satisfação, ficou a contemplar o corpo, trespassado pela dor, a esgotar-se no último suspiro e a fazer-se cadáver. o marquês.
2004/2022 - O Marquês (danado por © sérgio faria).