7.9.04
a outra. o jogo da sedução, tantas vezes ensaiado por ambos, já fora ultrapassado. os corpos estavam enleados. os beijos eram sôfregos. ele e ela sentiam-se já tomados pela vibração que anuncia o êxtase. aturdido pela paixão do instante, ele sentiu necessidade de dizer és a mulher da minha vida, a única mulher da minha vida. ela segurou o cabelo escorrido com uma das mãos e procurou-lhe a boca. beijou-o, recompensando-lhe as palavras. depois, quebrou-lhe o selo dos lábios e alcançou-lhe a língua. prendeu-a entre os dentes. cerrou-os. e, súbito, projectando violentamente a cabeça para trás, arrancou-lhe a língua. no gesto, teve a oportunidade de ver emergir o esgar de dor que se definiu no rosto dele. não tornarás a mentir-me foi o que, após ter cuspido a língua para o chão, disse a ultrajada amante, cansada de satisfazer-se com as sobras do marido da sua irmã, aquela com quem ele, por preferência, contraíra o sagrado sacramento chamado matrimónio. o marquês.
2004/2022 - O Marquês (danado por © sérgio faria).